VÓRTICE

Andei recebendo um mesmo e-mail, sobre os fractais, de diversas fontes.
Nada falam do cinza sempiterno. Daí um depoimento.

Em 1967, realizei meu primeiro formulário quando pensava que uma realidade podia se desdobrar em outras até chegar a um estado de confusão que se resolvia pela obviedade. Paralelamente, dizia que nosso pensamento poderia se desdobrar em outros até chegar a um estado de confusão, onde então teríamos que contar com o acaso para nos reencontrarmos.
Somente no início da década de oitenta tomei conhecimento da teoria do caos, em um texto de jornal, de divulgação leiga, de descobertas científicas.)

Em 68, desenvolvi essas idéias até o ponto onde foi ridicularizado por um crítico. Senti-me um idiota e parei de pintar.

Em 1973, retornei à pintura e continuei desenvolvendo essas idéias. Observei que um colorido poderia ser desdobrado em outros. Comecei a estudar, a partir de Cézanne, a questão dos rompimentos dos tons. Novamente a crítica me atacou afirmando que inteiramente fora de propósito, equivocada e sem sentido era meu trabalho, mas, apesar do baque, resisti. Estudava essas questões em naturezas mortas. No meio artístico falava-se da pop art, em arte conceitual, arte povera, minimalismo, vídeo arte, performances, optical arte, e isto e aquilo e até mesmo da morte da pintura. São movimentos importantes que produziram obras magníficas. No princípio da década de oitenta, descartei o círculo cromático absoluto que classifica as cores em primárias e secundárias, etc. Comecei a perceber nossos limites. Daí foi um pulo para chegar ao cinza sempitermo e onipresente, isto em 1986.

Pintei um quadro denominado "Observando uma miaria-sem-vergonha ou os vários caminhos para o infinito". As portas se abriram para uma compreensão maior da grandeza de Cézanne. Hoje percebo que o fracionamento das cores nos levam a intuir a zona do inviolável, do sagrado, etc. A crítica já não me ataca tanto mas ainda não me compreende.

Hoje falo de uma geometria cromática e noto que meus pensamentos acompanham essas novas descobertas. Daí dizer que não se deve pintar quadros que sejam ilustrações de descobertas científicas. Se digo que o cinza sempiterno é como o vazio-cheio da física quântica é só para mostrar como arte e ciência podem caminhar juntas.

Abraços do,
José Maria
Dezembro 2007

FORMULÁRIOS


Chardin, a poesia muda e a verdade em pintura


Chardin, que pintor complexo! Difícil falar-se de sua pintura. Mas há uma frase que pode nos permitir alguns comentários. Diz ele que o pintor tem que manter uma certa distância de seu modelo. Pensamos: se há uma aproximação o pintor pode se perder nos detalhes; se um afastamento, se perde da pintura; no devido lugar compreende a verdade da pintura. É curioso
observar suas pinceladas. Não demonstram um gesto, mas a objetividade ou realidade de uma pincelada, como que dissesse "isso é uma pincelada". O mesmo se pode dizer das cores: "isso não é a cor de um objeto, isso é uma
cor." Pouco importa que se muitas vezes muito esmaecida. Cézanne o compreendeu muito bem quando afirmou que "La nature se debrouille." A pintura por si só se organiza dentro de uma lógica. Uma figura, em um quadro de Chardin, nunca aparece inteira em muito de seus quadro, sobretudo naqueles pintados em sua maturidade. Um detalhe identificável, e a figura surge inteira. Há um quadro, uma cena interior. Uma empregada recostada em
um móvel, pousa levemente a mão sobre uns pães em cima do móvel. Na outra mão uma sacola com talvez uma ave morta. A saia é de um azulado esmaecido. A
sacola, os pães, a mão sobre eles pousada surgem pela identificação do rosto da empregada. O cômodo onde ela está, bem sombreado. Se liga por uma porta, pelo lado esquerdo a uma outra sala, mais iluminada. Entre uma sala e outra um filtro enorme em solene perfil, e penso em um objeto carregado de metáforas. Ou uma fronteira entre os dois espaços, o sombreado e o mais claro, filtro que elimina os recalques das sombras e ilumina as possíveis fantasias da empregada no primeiro plano de percepção. No fundo dessa sala contígua, perto de uma outra porta, uma talvez uma projeção da empregada,
conversa com um galanteador. Além desta porta um pedacinho mínimo de céu se apresenta como um limite do mundo dessa adorável empregada.

Uma aproximação de Chardin com o narrativo. O quadro em questão ilustra bem aquilo que Leonardo nos fala: "A pintura é uma poesia muda."

Penso que Chardin nos diz: não é, mas é, basta ver pelos intervalos. Por aí refere-se apenas à pintura, e nos faz pensar na sua verdade.

Noto que hoje há um interesse em Manet. Penso que para se estudar Manet tem que se começar por Chardin. Cézanne disse, diante das flores de Manet que ali estava a verdade da pintura. A verdade da pintura, como motivo da própria pintura, talvez comece em Chardin.

CONVITE TNT | EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DO LIVRO

CONVITE TNT | EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DO LIVRO
O vernissage da exposição "As formas do colorido" e o lançamento do livro "O cormatismo cezanneano", de José Maria Dias da Cruz, se darão no dia 14 de Junho, às 19 horas. O endereço da Galeria TNT é; Estrada Barra da Tijuca, 1636 - Loja A - Itanhanguá. O telefone para mais informações é: 21 2495 5756. A exposição seguirá até o dia 28 de Junho de 2011.