Cataguases

Uma aluna descobriu esses quadros meus em uma exposição em Tiradentes do acervo de Arte Moderna de Cataguases. O museu foi fundado por meu pai. São da década de quarenta (48 ou 49).

A folha sozinha em um dos quadros sou eu. Como escreveu Cézanne "... uma tristeza que ninguém disse." Tinha doze ou treze anos. Você sabe que gostei de revê-los. Não me lembrava.

Muitos artistas freqüentavam a casa de meu pai. Santa Rosa, Pancetti, Milton da Costa, Iberê, Di Cavalcanti, etc. Mostrava meus quadros para todos que sempre me orientavam. A Tarsila conversou comigo e escreveu uma carta para meu pai referindo-se só a mim. Infelizmente a carta se perdeu.

Dessa época ainda tenho um aqui em casa mas não tão ousado.

Sobre a folha sozinha o Mollica percebeu uma coisa emocionante. "Pois é, Zé, a folha está sozinha, mas está cercada de rosa e azul, cores muito carinhosas e receptivas ao olhar do espectador. Pense nisso."

Portanto tem o primeiro quadro, uma construção espacial cerebral e o segundo, que saiu do coração. "E agora, José?"

Abraços do
José Maria

16 comentários:

Centauro Arte & Comunicação disse...

Caro José Maria,
como deve ter sido gratificante para você saber da existência destes quadros no museu fundado por teu pai! E são muito bonitos. Desde cedo o pintor pedia passagem...
Parabéns, um grande abraço
Gloria

Centauro Arte & Comunicação disse...

Oi Zé, que barato ela ter descoberto estes quadros lindos seus. Você tinha 13 anos só?????????? Que espetáculo! Deve ter sido maravilhoso poder estar em contato com estes artistas todos. Que pena que você não tem mais a carta da Tarcila. Já pensou que sensacional seria? Por que você é aquela folhinha? Pensei que você fosse o vaso frondoso cheio de folhas. Pense nisso.
Beijos,
Cláudia

Centauro Arte & Comunicação disse...

Que legal Zé!
Muito bom os quadros hein?
Parece que você já sabia tudo o que viria a fazer depois... Interessante não?
Beijos
Suely

Centauro Arte & Comunicação disse...

Zé,
Que lindos! Bom saber que sua aluna "encontrou" essas preciosidades! No seu livro tem uma pintura sem título de 48 da qual sempre gostei muito. Acho a relação muito forte com sua produção atual. Não sei bem explicar isso, mas acho que vai pela organização espacial. Um dia conversamos melhor.
Por que vc não entra em contato com o Museu e pede para eles te enviarem mais imagens? Certamente eles têm o acervo todo catalogado e devem ter as obras bem documentadas. Acho que valeria a pena vc tentar, por e-mail essas coisas ficaram mais acessíveis.
É sempre bom ouvir suas estórias.
Um beijo da
Mariana

Centauro Arte & Comunicação disse...

José Maria, sua história me emociona muito. Deve ter sido muito bom ter convivido com esses artistas. Eu lamento muito a sua situação, o golpe do seu advogado. Será q não há um jeito de reverter, de recorrer à justiça para processá-lo? Também lamento a falta de espaço no cenário artístico no Brasil. Gostei muito dos seus quadros. Como faço para conhecer mais as suas obras? Como faço para conhecer sua biografia?
Sobre seu livro, eu ainda gostaria de fazer o projeto gráfico. Mesmo à distância isso é possível. Vez ou outra eu participo de projetos culturais voluntariamente. É claro q a maioria das vezes não se consegue apoio ou espaço, mas ainda assim continuo me envolvendo e acreditando. Um grande abraço! Valéria

Centauro Arte & Comunicação disse...

Fala, zé,
são realmente quadros bem ousados... há qualquer coisa que não sei bem o que é...
Tinhas 12 ou 13 anos? incrível. A primeira tem uma composição tão sofisticada, zé... a fita, e o que parece ser um rodapé, em cima, à esquerda... parece um espaço que começa a flertar com a oval, sei lá. Gostei muito, papo sério. A outra é também muito inteligente. Gostei da folhinha - que é você. Vencendo a natureza é caindo no mundo... Tenho certeza de que essa convivência em casa só lhe trouxe benefícios, desviando-o do mau caminho do direito, da engenharia....
Pedro
Belos trabalhos, zé

Centauro Arte & Comunicação disse...

Que legal, Zé! Fiquei emocionada! Vou guardar estes quadros com carinho! Ficou mais bonito ainda ao saber que a folhinha é você! Muito poético e doce.
Beijos
Elaine

Centauro Arte & Comunicação disse...

Oi Zé,
Ah, Zé...que eu posso falar....está tudo ali...em estado bruto talvez, que certamente vc foi lapidando,...mas está ali.
O seu "olhar"...a percepção das cores...eu quero dizer que são lindos, mas nem é bem isso...Eles já têm profundidade, uma coordenação de cores! E possivelmente ainda tudo muito instintivo... Obrigada por dividi-los cmg...amei
E o que não deve ter sido a possibilidade de conviver com esta turma toda...foi um presente da vida, Zé. Um presentão que a vida te proporcionou. Mto legal.
Abraços saudosos,
Rita

Centauro Arte & Comunicação disse...

Oi, Zé
Impressionante, seus quadros me lembram muito Cézanne. Você tinha ele como referência desde aquela época? Sinto muita leveza nos traços, nas pinceladas, na composição...
Abraços
Mariana

Centauro Arte & Comunicação disse...

Zé Maria
A folha é você. Uma folha caída, separada da planta mãe. A situação parece
triste. No entanto ela é a diferença.
E as folhas caídas são férteis. Tornam-se húmus.
Tudo de bom. LIA

Centauro Arte & Comunicação disse...

que legal Zé!!
deve ter sido uma alegria reencontrar isso
adorei!!
o meu deus!!
quem não se sente as vezes essa folha sozinha!!
Beijosss Laura

Centauro Arte & Comunicação disse...

ZÉ, que maravilha de pintura.!!!! Não parecem quadros de um adolescente. Já são tão maduros.! Que tristeza mesmo, mas ainda acredito no seu sucesso. Pode tardar mas, com certeza, virá. Vc. é de uma genialidade que não acredito como ainda não respeitaram vc. como merece.
Mil beijos da amiga Nina

Centauro Arte & Comunicação disse...

Ô Zé Maria, esses quadros são absolutamente cezanianos ( acho que engoli um n...)
Muito interessantes mesmo e ainda mais para quem tinha que correr atrás de bola, jogar bola de gude, matar passarinho, você é pintor de alma e espírito.
Lindos mesmo
Bjs
Cristina

Centauro Arte & Comunicação disse...

Pois é, Zé, a folha está sozinha, mas está cercada de rosa e azul, cores muito carinhosas e receptivas ao olhar do espectador. Pense nisso.
Mollica

Centauro Arte & Comunicação disse...

Redescoberta excelente, heim meu caro?
Muitas coisas nos quadros interessantíssimas, especialmente, o ponto-de-vista alto, o levantamento do plano da mesa, quase nenhuma sombra, o halo acinzentado, a luz difusa e uma cor nada fácil. Nesses esforços iniciais já encontramos a alma do que virá pela frente, não é mesmo? Os germes da Grande Obra estão ali. Gostei demais.
Ronaldo

Centauro Arte & Comunicação disse...

Que beleza Zé, estas recordações são incríveis. 13 anos já tinha feito uma pintura de museu. São belas as pinturas, com uma composição já de dar inveja.
Vou guardar estas imagens no meu arquivo.
Beviláqua

FORMULÁRIOS


Chardin, a poesia muda e a verdade em pintura


Chardin, que pintor complexo! Difícil falar-se de sua pintura. Mas há uma frase que pode nos permitir alguns comentários. Diz ele que o pintor tem que manter uma certa distância de seu modelo. Pensamos: se há uma aproximação o pintor pode se perder nos detalhes; se um afastamento, se perde da pintura; no devido lugar compreende a verdade da pintura. É curioso
observar suas pinceladas. Não demonstram um gesto, mas a objetividade ou realidade de uma pincelada, como que dissesse "isso é uma pincelada". O mesmo se pode dizer das cores: "isso não é a cor de um objeto, isso é uma
cor." Pouco importa que se muitas vezes muito esmaecida. Cézanne o compreendeu muito bem quando afirmou que "La nature se debrouille." A pintura por si só se organiza dentro de uma lógica. Uma figura, em um quadro de Chardin, nunca aparece inteira em muito de seus quadro, sobretudo naqueles pintados em sua maturidade. Um detalhe identificável, e a figura surge inteira. Há um quadro, uma cena interior. Uma empregada recostada em
um móvel, pousa levemente a mão sobre uns pães em cima do móvel. Na outra mão uma sacola com talvez uma ave morta. A saia é de um azulado esmaecido. A
sacola, os pães, a mão sobre eles pousada surgem pela identificação do rosto da empregada. O cômodo onde ela está, bem sombreado. Se liga por uma porta, pelo lado esquerdo a uma outra sala, mais iluminada. Entre uma sala e outra um filtro enorme em solene perfil, e penso em um objeto carregado de metáforas. Ou uma fronteira entre os dois espaços, o sombreado e o mais claro, filtro que elimina os recalques das sombras e ilumina as possíveis fantasias da empregada no primeiro plano de percepção. No fundo dessa sala contígua, perto de uma outra porta, uma talvez uma projeção da empregada,
conversa com um galanteador. Além desta porta um pedacinho mínimo de céu se apresenta como um limite do mundo dessa adorável empregada.

Uma aproximação de Chardin com o narrativo. O quadro em questão ilustra bem aquilo que Leonardo nos fala: "A pintura é uma poesia muda."

Penso que Chardin nos diz: não é, mas é, basta ver pelos intervalos. Por aí refere-se apenas à pintura, e nos faz pensar na sua verdade.

Noto que hoje há um interesse em Manet. Penso que para se estudar Manet tem que se começar por Chardin. Cézanne disse, diante das flores de Manet que ali estava a verdade da pintura. A verdade da pintura, como motivo da própria pintura, talvez comece em Chardin.

CONVITE TNT | EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DO LIVRO

CONVITE TNT | EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DO LIVRO
O vernissage da exposição "As formas do colorido" e o lançamento do livro "O cormatismo cezanneano", de José Maria Dias da Cruz, se darão no dia 14 de Junho, às 19 horas. O endereço da Galeria TNT é; Estrada Barra da Tijuca, 1636 - Loja A - Itanhanguá. O telefone para mais informações é: 21 2495 5756. A exposição seguirá até o dia 28 de Junho de 2011.